terça-feira, 10 de janeiro de 2012

As histórias de Elida Belo da Silva, a cidadã que mora há 89 anos em São Luís do Quitunde

“Era muito bom quando ouvíamos as pessoas gritarem: Olha o trem!... Olha o trem!... Está chegando!... Corríamos para vê-lo passar...”
Por Anobelino Martins

Elida Belo

Elida Belo da Silva, conhecida como D. Leda, nasceu em São Luís do Quitunde, na Rua Dr. Júlio de Mendonça no dia 04 de outubro de 1923, filha de Joaquim Belo da Silva e Corália Belo da Silva. A mesma nasceu em casa, já que sua mãe era parteira. Mudando-se depois, com a família, para outra casa na mesma rua, próximo a praça do Pe. Cícero, onde reside até hoje.

Vou passar um pouco da história que ouvi da mulher que vive a 89 anos na cidade de São Luís do Quitunde. Certamente ela tem muito para contar.

“Era um tempo muito bom, minha infância sem dúvida foi ótima, fui catequista da Igreja na época do Pe. Durval e cantava no Coral Sagrado Coração de Jesus. Lembro-me também que naquela época existia o Clube das mães, que funcionava do lado da Igreja onde atualmente é a secretaria de saúde. Lá as mães mais experientes ensinavam as mães mais novas a costurar, a fazer crochê e a bordar. Durante muito tempo participei desse grupo, sem duvida esse foi um tempo sem igual. Hoje são poucas as mães que se dedicam a fazer todo o enxoval do seu filho com as próprias mãos, naquela época não, todas as mães faziam juntas e depois iam para a Igreja rezar e agradecer a Deus.”

Vendo D. Leda falando isso fiquei imaginando as mulheres indo todas as tardes para o Clube das mães, onde poderiam aprender um pouco sobre costura. Hoje em dia são poucas as pessoas que se interessam por isso, a grande maioria prefere comprar as roupas das crianças já prontas.

E D. Leda continuou contando sobre sua vida:

“Lembro-me que quando tinha por volta de 11-12 anos de idade fui dormir ansiosa para ir para a caminhada Mariana da Festa de Nossa Senhora da Conceição que iria começar às cinco horas da manhã. Acordei desesperada achando que já eram cinco horas e que a caminhada já havia saído. Saí de casa as pressas e quando fui chegando à ponte da Praça do Pe. Cícero, que na época, ainda era de madeira, vi um senhor que disse: - Ei menina, você não é a filha da D. Corália? Aonde você vai uma hora dessas? 

Então eu falei: - Vou para a caminhada da Igreja, não são cinco horas? Rindo o homem me disse: - Menina ainda são três horas da manhã! Neste dia fiquei em frente à igreja esperando chegar às cinco horas para o sacristão abrir a Igreja.”

Neste momento aproveitei para perguntar sobre um antigo trem da Usina Santo Antonio, que passava em frente à Igreja e servia para carregar cana até o Porto da Barcaça.

“Sim, claro que me lembro do pequeno trem! Às vezes eu subia em cima dele para andar, já que na época não tinha transporte. Conseguir subir em cima do pequeno trem era uma grande conquista nos meus tempos de criança. Era muito bom quando ouvíamos as pessoas gritarem: Olha o trem... Olha o trem... Está chegando... Corríamos para vê-lo passar...”

Enquanto ela contava essas histórias, minha mente viajava no passado, numa época em que nunca vivi, como um filme antigo que trás as imagens de décadas passadas. Assim minha mente viajou e trouxe uma imagem do passado, junto com uma afirmação: Nossa Cidade tem uma bela história para ser contada.

Aproveitando a história do trem perguntei se ela tinha recordação do primeiro carro que circulou pelas ruas de barro de São Luís do Quitunde.

Empolgada ela respondeu:

- Sim, claro que lembro! Quando o carro chegava na cidade era a maior festa para as crianças. Saíamos correndo pela “rua do bode” para ver o automóvel que vinha da Castanha Grande. E sabe quem dirigiu o primeiro carro aqui em São Luís do Quitunde? O meu irmão Humberto Belo da Silva. Ele vinha dirigindo e quando via aquele imenso número de crianças e jovens que se encantavam com o veículo, buzinava, e todas as crianças corriam com medo... Era engraçado!

Para finalizar a conversa, pedi que a simpática senhora desse um recado para todos os quitundenses.

“Sejam fieis a Deus, amém a Igreja de vocês assim como eu amo a minha. Sejam fieis a Deus e vocês serão felizes!” 

Fotos: Arivaldo Martins l Cique na foto para ampliá-la

Anobelino Martins e Elida Belo
Anobelino Martins e Elida Belo